Os impactos emocionais na chegada de um segundo filho

11/07/2018 Iara Castro

Sempre escutei mães e mulheres dizendo que ter um segundo filho é mais fácil do que ter um primeiro! Afinal, os pais já possuem “experiência prévia” com os cuidados básicos com um bebê! Mas, será verdade? Ou apenas mais uma crença popular? Questiono-me frequentemente sobre a veracidade dessa afirmação, pois a mesma parece desconsiderar o impacto que a chegada de mais uma criança gera no sistema familiar, demandando adaptações de todos os membros e claro, mudanças significativas nas interações já estabelecidas!

Estudos demonstram que tornar-se pai de dois filhos é qualitativamente diferente do período de transição para a parentalidade no contexto de nascimento do primeiro filho (Dessen, 1997; Gottlieb & Baillies, 1995; Kojima, Irisawa & Wakita, 2005). O sistema familiar passa a sofrer constantes modificações do ponto de vista estrutural, uma vez que deixa de ser triádico – pai, mãe e criança – e passa a ser poliádico – pai, mãe, primogênito e segundo filho (Dessen, 1997; Kreppner et al., 1982). Os ajustes familiares podem ocorrer antes, durante e depois da chegada do segundo filho. Caracterizam-se como temporários e podem se estender por até dois anos (Kowaleski-Jones & Dunifon, 2004; Stewart et al., 1987), ou ainda por até quatro anos (Baydar et al., 1997a).

Ou seja, a chegada de um segundo filho realmente traz às famílias uma nova demanda que precisa ser trabalhada e elaborada! Assim, meu convite hoje é para pensarmos sobre os impactos emocionais decorrentes da chegada de um segundo filho para a mãe e para o recém “irmão mais velho”! Vamos lá?

Impactos emocionais para a mãe

Mães que vivenciam a maternidade pela segunda vez relatam a experiência através de diferentes sentimentos! Dentre os mais comuns, podemos apontar (Oliveira, 2006; Walz & Rich, 1983):

● Sentimentos de perda da relação especial da mãe com o filho único;

● Busca de aceitação do bebê pelo primogênito - uma das maiores preocupações maternas;

● Preocupação com a inserção do bebê no ambiente familiar;

● Ambivalência em relação à sua capacidade de amar o segundo filho, da mesma forma como ama o primeiro.

Todos esses sentimentos emergem junto a uma preocupação recorrente: como meu primeiro filho se sentirá após a chegada do irmão ou irmã? Assim, compreender um pouco dos impactos emocionais gerados no primogênito pode ajudar às mamães a apoiarem seus filhos nesse período essencial de ajustes e adaptações.

Impactos emocionais para o primeiro filho(a)

Existem diversos estudos sobre as mudanças da interação mãe-primeiro filho. E, sobretudo, sobre os impactos gerados no comportamento do filho único ao se tornar “irmão mais velho”. De modo geral, os estudos apontam as seguintes mudanças como as mais recorrentes e significativas:

● Aumento de confrontação e até agressão (para com a mãe ou com o bebê) – comportamentos que oscilam com momentos de afetividade extrema;

● Problemas de sono e pedidos para voltar a dormir com os pais;

● Mudanças nos hábitos de alimentação e higiene;

● Diminuição do interesse e da sensibilidade materna em relação ao primogênito (momentos de conversação, brincadeiras);

● Diminuição da sensibilidade aos interesses do primogênito;

● Acréscimo de proibições e restrições por parte da mãe – que acarretam maiores reações de negação por parte do filho mais velho (popularmente conhecida como “desobediência”);

● Estresse significativo para o primogênito;

● Aumento nos comportamentos de dependência, demanda e regressão – algumas vezes desde a gestação;

Nesse aspecto, observa-se uma maior demanda verbal (“chamados”) pelo filho mais velho em momentos em que a mãe cuida e segura o bebê recém-chegado. E podemos encontrar também, pedidos por colo, atenção e até demandas já superadas. Como por exemplo, “me leva ao banheiro?”, “me dá comida na boca?” “me dá mamadeira?” – quando a criança já não necessitava de auxílio para essas atividades! A fala infantilizada regressiva também é bastante comum nesse momento.

Considero importante ressaltar que essas reações emocionais variam de acordo com a harmonia conjugal, com o bem-estar emocional materno, com a qualidade da relação pais-primogênito e com o apoio parental fornecido ao filho mais velho (Gottlieb & Mendelson, 1990; Legget al., 1974). Curiosamente, a idade e o sexo do primogênito e do segundo filho também influenciam em suas reações (Dunn et al., 1981; Gottlieb & Baillies, 1995).

Mas, como ajudar meu filho nessa adaptação?

O ajustamento necessário com a chegada de um segundo filho depende tanto da habilidade parental para prover a continuidade de cuidado e atenção à criança, quanto do desenvolvimento emocional e da percepção desta sobre o evento!

Posso garantir a vocês que o processo de adaptação do primogênito depende muito da qualidade de interações que existiam antes na família! Se as relações prévias estavam inadequadas, este processo pode gerar um impacto maior no comportamento do irmão!

Infelizmente, não existe um modo para evitar o estresse de uma criança quando da chegada de um irmão. Mas, alguns cuidados podem ser tomados pela família para facilitar a adaptação! Vamos conhecer alguns?

● Envolvimento do irmão mais velho nas atividades de preparação para a chegada do irmão (desde a gestação, na hospitalização materna, etc);

● Inserção e participação do primogênito nas tarefas e cuidados rotineiros com o bebê;

● Diálogo, contato e espaço para demonstração de sentimentos (medos, receios, expectativas) durante todo o processo;

● Respeito e consideração pelos sentimentos expressos ou manifestados indiretamente pela criança;

● Preservação de espaços exclusivos e momentos únicos de interação entre mãe-filho mais velho e pai-filho mais velho (olhar exclusivo, cuidado, escuta atenta, brincadeiras)...

● Preservação da rotina diária habitual dessa criança após a chegada do irmão.

Assim, cuidados como esses podem de alguma maneira, facilitar o ajustamento e minimizar as reações emocionais negativas do primogênito! De maneira geral, acredito que compreender essas demandas emocionais e reconhecê-las é sempre um primeiro passo para ajudá-lo!