Frustrar é um ato de desamor?

17/10/2018 Iara Castro

Em um atendimento especial nessas últimas semanas ouvi amorosamente minha cliente refletindo sobre um conflito materno (muito comum) que se estabelece entre a frustração e o desamor! A reflexão dela tornou-se minha, ultrapassou o tempo de nossa sessão e ficou em mim, me fez pensar... Refleti tanto sobre isso que optei por compartilhar com vocês um pouco mais!

Diga-me sinceramente, se você já viveu alguma situação com seu filho, onde sentiu-se muito mal por vê-lo chorar e, naquele momento, julgou-se enquanto mãe! Viu ali uma mãe ruim, pensou que falhava no seu papel, que agia com DESAMOR! Não sei qual imagem veio-lhe à mente nesse momento. Mas, gostaria que você aprofundasse nessa reflexão! O choro do seu filho, naquele momento, era por desamor ou por frustração?

O que é a frustração?

FRUSTRAÇÃO é um sentimento, uma emoção que ocorre quando algo que era esperado não se concretiza. É um substantivo feminino que nomeia o ato ou o efeito de frustrar-se, de não ter o seu desejo satisfeito. Do latim frustratione (deixar sem efeito).

A frustração e sua importância no desenvolvimento da criança

E então, por que é importante que a criança, dentro do seu processo de desenvolvimento, principalmente, dentro dos seus 7 primeiros anos, viva a frustração? Apesar de nos sentirmos mal quando nossos filhos demonstram tristeza, choro, raiva ou angústia decorrentes da frustração, essa vivência é essencial para o desenvolvimento infantil por ajudar a criança a elaborar o NÃO.

Frustrar-se permite que a criança aprenda a lidar com o imprevisto, a lidar com a ausência de controle e com tudo aquilo que vai além de nosso desejo pessoal! São experiências essenciais para a constituição da personalidade de nossas crianças! É ajudá-las a vivenciarem a limitação, como as margens de um rio que canalizam suas águas em certa direção!

Não me preocupo ao ver uma criança gritando, chorando, manifestando sua raiva diante de algo que lhe frustra! Ela tem todo o direito e inclusive, em algumas idades, é uma manifestação esperada (devido ao seu egocentrismo constituinte)! Preocupo-me ao ver pais cada vez mais dilacerados diante dessa realidade! Pais que simplesmente, não conseguem lidar com crianças frustradas e, portanto, acabam agindo sempre de forma a atender aos seus desejos (sejam eles quais forem). Pais que não conseguem pensar na hipótese de não responder ao desejo da criança, mesmo que esse desejo esteja ultrapassando suas próprias necessidades, crenças ou limites.

E, muitos desses pais, nesse momento, sentem que ao frustrar seu filho estão agindo com desamor!

Permissividade, frustração ou desamor?

Mas, por que trouxe a permissividade para esse jogo? Costumo dizer que ser permissivo no processo educacional é permitir que o desejo de seu filho ultrapasse suas limitações pessoais! Quando vejo os pais submetendo suas necessidades pessoais (inclusive necessidades básicas, como o sono) de forma a atender ao seu filho, vejo pais atuando de forma permissiva! E, isso não é sinal de amorosidade!

Seu filho pode ser frustrado e ser amado! Seu filho pode ter momentos de raiva, choro e tristeza e entender que por viver isso, ele não está sendo abandonado! Seu filho pode chorar, ficar irritado e, conseguir perceber que isso não torna você uma mãe melhor ou pior!

Quando agimos com clareza de propósitos, quando nossos limites estão bem elaborados e quando nossas crianças são amparadas afetivamente na interação familiar, os momentos de frustração tornam-se positivos! Em um contexto assim, frustrar-se é permitir aprendizado, crescimento, amadurecimento e construção interna! E, para isso não tem idade!

Mas, atenção!

Antes de encerrar acho importante destacar que podemos permitir a frustração e ainda assim, respeitar a forma como nossos filhos estão se sentindo. É possível permitir que a criança sinta-se irritada, que ela chore, fique triste, mas ainda assim, estar ali para ela (sendo sensível a como ela se sente naquele momento). Permitir a frustração quando necessário não significa ter que ser punitivo ou insensível aos nossos filhos. Muito pelo contrário! Mas, isso é assunto para outro texto, não acham?