Limites e comunicação na educação infantil

01/08/2018 Iara Castro

Aqueles leitores que acompanham o blog ou os meus posts no instagram sabem que não sou especialista em psicologia infantil ou em educação. Também, não sou especialista em disciplina positiva ou uma grande entendedora da criação com apego. Na verdade, trabalho com mães e cuidadores em diferentes fases do processo parental – seja nos atendimentos clínicos ou nas consultorias de sono.

Ou seja, estou constantemente próxima a mulheres e homens que exercem diariamente o mesmo papel que eu: realizam escolhas que os guiam no processo de educação de seus filhos. E nessa caminhada, cometem erros. Levantam-se e tentam novamente. E erram novamente. Mas claro, acertam também! Buscam informações, livros, ferramentas diversas relacionadas à maternidade. E então, tentam aplicar aquelas com as quais se conectam - o que faz sentido para eles e para sua família.

Não nascemos prontos para educar uma criança. Os nove meses de gestação não formam pais e mães na mesma velocidade com que um bebê é constituído no ventre materno. E reconhecer nossas limitações e dificuldades é o primeiro passo rumo a uma maternidade mais leve e humana.

Tudo isso para introduzir um assunto importante sobre o qual gostaria de refletir: a importância dos limites e da comunicação na educação infantil.

A importância do estabelecimento de limites

Estabelecer limites claros é um processo essencial na educação de uma criança. Crianças precisam de limites. Nesse sentido, podemos traduzir a delimitação como um processo de direcionamento, de canalização de energia. Concordam?

Mas, então queridos pais, onde está o problema?

Normalmente, o problema ocorre na forma como os limites são estabelecidos. Afinal, por uma herança histórica, podemos acabar pecando ao utilizar força, agressão verbal, física ou até certo autoritarismo no estabelecimento dessas “regras”. Limites podem ser estabelecidos também, com afeto, respeito e empatia. Eles não precisam ser abusivos ou violentos para serem eficazes.

Como estabelecer limites claros e empáticos

A chave para o estabelecimento de limites respeitosos e afetivos está em uma comunicação eficaz. Pois, a grande maioria dos problemas gerados entre pais e filhos tem início em algum ruído comunicacional.

Vamos fazer um exercício? Pare um pouco e tente recordar um episódio de “birra” de seu filho. Ou uma grande crise de choro, gritos e desentendimentos. Agora, tente voltar no tempo para alguns momentos antes do conflito. É muito comum encontramos antes de uma situação como essa, um pedido da criança que não foi considerado.

E ao dizer “pedido não considerado”, por favor, não entendam que defendo que todas as vontades da criança devam ser satisfeitas. Não sou a favor da permissividade. Mas, sou a favor da consideração e do respeito na comunicação e na verbalização das necessidades dos pequenos! Ou seja, da validação daquilo que eles consideram importante e da escuta respeitosa daquilo que eles trazem até nós.

Quando não ouvimos e não fornecemos a devida atenção àquilo que nossos filhos falam, pedem ou solicitam, podemos acabar em um ciclo vicioso, onde a criança para de solicitar sua necessidade real e passa a se esconder em pedidos deslocados. O que dificulta ainda mais a nossa comunicação.

Vamos pensar em um exemplo? Hora de ir para escola. Minha filha pede insistentemente que eu brinque com ela. Eu sigo focada no passo-a-passo matinal e afirmo que é hora de escovar os dentes. Ela me segue frustrada e faz o que eu lhe imponho. Seguimos o rotina diurna e depois de algum tempo, ela se joga no chão afirmando que está com sono. Chora e grita que não quer sair. Demora muito para se acalmar e fico por um bom tempo tentando entendê-la. Os limites foram colocados. Mas, de alguma forma, algo na comunicação não foi eficaz. O que será?

O reconhecimento.

Só existe comunicação eficaz quando os envolvidos são capazes de reconhecer a mensagem enviada. Quando não validamos aquilo que nossos filhos solicitam eles sentem as suas necessidades anuladas e podem buscar alternativas para serem ouvidos. E normalmente, a forma que encontram não é tão saudável como desejamos. Isso pode ocorrer através das birras, do choro, dos gritos e de momentos de conflito.

Então, como podemos estabelecer limites claros baseados em uma comunicação eficaz?

Não existe fórmula pronta, mas posso compartilhar algumas sugestões que podem nos ajudar no estabelecimento de limites empáticos. Vamos conhecer?

  • 1 - Estabeleça o limite de forma clara.
  • 2 - Segure o limite – sustente – de forma firme, mas gentil.
  • 3 - Escute e seja empático com o que seu filho lhe apresentar em reação ao limite. Encoraje-o a falar sobre como se sente. Ajude-o a nomear aquilo que emerge. Acolha seus sentimentos.
  • 4 - Negocie – Vá em direção a seu filho e busque um acordo entre o seu desejo e o desejo dele. Algo que faça sentido lógico para ambos.

Para que essas sugestões funcionem é preciso ser generoso e estar aberto para essa comunicação. É preciso valorizar aquilo que seu filho sente e respeitá-lo enquanto pessoa. Não se negocia com que não se reconhece.

Vamos voltar ao exemplo que narrei anteriormente e ver como eu poderia ter agido diferente?

Hora de ir para escola. Minha filha pede insistentemente que eu brinque com ela. Percebo que ela precisa estender o contato comigo  porque passei o dia anterior inteiro fora e ela gostaria de um momento de atenção. Assim, paro por um instante e olhando para ela, reconheço seu pedido: - Sim filha, entendo que você quer brincar e que deseja ficar mais com a mamãe. Mas, precisamos nos arrumar para a escola agora. Podemos fazer o seguinte - que tal escovarmos os dentes e depois que você estiver pronta para sair brincamos por 5 minutos? 

Importante destacar que não é necessário atender ao desejo verbalizado caso ele não seja plausível naquele momento. A sugestão não é aceitar tudo! É apenas reconhecer o pedido e nomeá-lo. E então, ao negociar com a criança, valorizamos aquilo que ela nos traz.

Que tal experimentar as sugestões? Conte-me no post do instagram @ comaternar o resultado, adorarei ouvir as experiências de vocês!