Discutindo a relação

29/08/2018 Iara Castro

Quando pensamos em relacionamentos podemos lembrar-nos de alguns tópicos que de tão abordados, tornaram-se banalizados. Nesse sentido, discutir a relação é praticamente um chavão. Afinal, esse tema é tão recorrente que por muitas vezes, tornou-se até conteúdo de piadas! Tornou-se praxe afirmar que homens têm medo de discutir a relação. Mas, arrisco-me a dizer que todos nós podemos nos refugiar nessas discussões para evitar a questão mais importante: como anda a relação de você, com você mesmo?

Na tão falada “atualidade”, somos diariamente bombardeados por informações sobre saúde, bem estar, atividades físicas, dicas profissionais, maternais, amorosas, familiares, etc. Sabemos a “tabuada” dos papéis de trás para frente. Como preciso agir para conquistar um parceiro? O que tenho que fazer para manter aceso o meu relacionamento? Como ser uma boa mãe e profissional ao mesmo tempo? Como posso destacar-me em minha empresa e ser promovido? Como ser um bom filho? Bom marido? Amigo? Amante? E mais: como ser tudo isso e ainda, ecologicamente correto? Nossa! Demais para qualquer um. Certo? Errado! Abraçamos todos os rótulos (com seus manuais de instruções) e colocamos nas nossas “ecobags”. Desfilamos por ai esquecendo mais uma vez, daquele que no final do dia carrega tudo isso: nós mesmos.

Todas essas facetas, máscaras, papéis sociais (ou outras denominações) tornam o processo de olhar para si mesmo ainda mais difícil. Afinal, seria possível olhar para mim quando tenho mil outros “deveres” escritos na agenda gritando por cinco minutos do meu tempo? Certo dia, li que a famosa estilista Diane Von Furstenberg afirmou que a relação mais importante que uma pessoa pode ter é a relação consigo mesmo. Afinal, afirmou ela, qual outra relação é eterna? E você ai, como vai a sua relação com você mesmo?

Vamos fazer um teste? Pergunte ao seu companheiro o que ele mais gosta de fazer, o que mais lhe agrada, o que lhe desagrada. Questione-o sobre o que ele acha que seus filhos esperam de vocês, o que ele sonha em ter. Converse com seus pais sobre o que eles amam ou odeiam. Encontrou respostas? Mas e se as perguntas fossem sobre você? As respostas viriam naturalmente? Seriam claras e certeiras? É essa relação que desejo colocar em pauta: a sua relação consigo mesmo.

Podemos tentar parar e refletir sobre a última vez que ouvimos a nós mesmos ou a última vez que REALMENTE ouvimos a nós mesmos. Afinal, não existe relação com mais ruídos e interferências do que essa. Comunicar-se já é complicado, comunicar-se consigo mesmo: tarefa praticamente impossível. Muitas vezes, flagramo-nos abdicando de nós mesmos, por aquilo que acreditamos acreditar. Isso mesmo, com toda sua redundância. Acreditamos que somos calmos e pacientes. Acreditamos que gostamos de peixe ou será frango? Acreditamos que estamos felizes. E que seremos eternamente assim. Mas, será mesmo?

Estar em sintonia com você mesmo é a tarefa mais complicada que podemos ter. E, discutir essa relação é o que realmente nos amedronta. Mas, simplesmente não deveria ser assim. Deveria ser fácil. Afinal, estamos falando de quem? Deveria ser gostoso, habitual, leve. Deveria ser como se olhar no espelho e admirar. Mas, falta tempo, falta disposição, falta coragem. Porém, para aqueles que não querem chegar ao fim da estrada e se assustar com o vazio da caminhada o importante não é saber para onde ir, mas sim, quem está indo de verdade. Quem está dando aqueles passos?

Assim, faço-lhe uma proposta! Abra espaço na agenda e tome um café com você mesmo! Permita-se saborear novamente cada gosto, questionar-se sobre suas preferências, medos e receios. Olhe para si mesmo em todos os momentos e se pergunte: quem é você hoje? O que gosta? O que quer? Posso te conhecer melhor? E quem sabe um dia, quando você precisar discutir essa relação, você se assustará com as maravilhas de ser quem é!