Choro do bebê e crianças – 3 aspectos para se pensar

25/07/2018 Iara Castro

 Um dos problemas mais difíceis enfrentados pelos pais no estabelecimento de um padrão de cuidado para seus bebês é como interpretar as necessidades deles. Os bebês obviamente não conseguem articular suas necessidades ou expressar como estão se sentindo, mas têm uma maneira importante de assinalar que algo está errado ou que estão insatisfeitos – através do choro.

Através de processos universais de maturação, os bebês diminuem a frequência do choro a partir da sexta semana de vida (St. James-Roberts e Plewis, 1996). Mas, nas primeiras semanas, muitos pais relatam sofrimento e angústia relacionados à dificuldade de compreensão do significado do choro. Assim, gostaria de abordar três aspectos relativos ao choro e seu impacto na parentalidade.

1) O fator biológico do choro: somos programados para acalmar

Você sabia que tanto pais, quanto adultos sem filhos, reagem ao choro dos bebês com aumento na frequência cardíaca e na pressão arterial - sinais fisiológicos de ansiedade (Bleichfeld e Moely, 1984). E que mães que amamentam podem fazer o leite fluir simplesmente por ouvi-los (Newton e Newton, 1972)? O choro do bebê possui um apelo tão forte para nós que é praticamente impossível ouvir um bebê chorar e não esboçar alguma reação. Mas, devemos nos lembrar de que somos capazes de racionalizar essas sensações e de alguma forma, tentar ter controle sobre elas.

Diante do choro, pare um instante! Sim! Pare um instante e perceba como você se sente! Acalmando-se você terá maiores chances de sucesso em acalmar seu bebê!

Lembre-se também que lidar com a ausência, com a falta é um aprendizado importante para seu bebê. Claro que o tempo que cada criança deve suportar, está diretamente relacionado à sua idade e desenvolvimento. Mas, oferecer a resposta em um tempo ótimo (ideal), oferece ao bebê/criança um espaço para preencher essa falta com algo novo, com algo seu e aprender com isso. 

2) O choro amadurece e sua função pode se alterar: o choro voluntário

Inicialmente, o choro é controlado por estruturas do tronco cerebral, mas após alguns meses, o córtex cerebral se torna envolvido, permitindo aos bebês chorar voluntariamente. Ou seja, eles se tornam capazes de colocar intenção no choro e usualmente, os pais se tornam capazes de perceber variações na tonalidade do mesmo. Apesar de mantermos nosso padrão interno de necessidade de atender ao bebê diante do choro, uma resposta importante é tentar identificar a sua função.

Para isso, diante do choro, podemos nos fazer uma importante pergunta: “O que meu bebê está tentando me dizer?”.

O choro é sua forma de comunicação e podemos sim, buscar compreender a mensagem enviada. E se formos capazes de uma mínima compreensão, poderemos emitir a resposta que consideramos adequada, no tempo que considerarmos adequado. Ou seja:

● Se o bebê chora por fome – a mãe poderá alimentá-lo;

● Se o bebê chora por frio – a mãe poderá controlar sua temperatura;

● Se o bebê deseja colo – a mãe poderá acalentá-lo.

Lembrando sempre que esse entendimento pode vir também, através da eliminação de hipóteses. Ex. acabei de alimentá-lo, se ele está chorando não deverá ser fome. Será que ele está com algum desconforto relativo à gases? Será que sua fralda está suja? Etc.

3) Mas devemos sempre responder ao choro do bebê conforme seu desejo?

Neste momento torna-se importante refletir sobre a intenção do choro. Bebês choram para que suas necessidades básicas sejam atendidas a contento. Mas, também, podem chorar para que suas vontades sejam satisfeitas.

Você nunca viu um bebê ou criança chorar muito forte porque deseja pegar algo que não é apropriado? Por exemplo, um objeto perigoso? O que você faria se seu bebê chorasse porque deseja tocar em um forno que está aquecido? Ou tocar em uma fogueira? Você possivelmente retiraria seu bebê de perto do perigo. E se ele chorasse cada vez mais forte? Você reafirmaria que aquilo não pode ser feito. E se ele engasgasse com o próprio choro? Possivelmente, você tentaria distraí-lo ou explicaria mais uma vez o perigo envolvido. Ou até, não lhe daria mais atenção, para não reforçar o choro. Correto?

Essa reflexão é importante, pois encontramos diversos pais que não se sentiriam culpados em negar o acesso de seus filhos ao perigo, mas que possuem dificuldades em dizer não (e lidar com o choro) em relação á hábitos ou comportamentos inadequados. Por quê?

4) Um exemplo - o choro na consultoria de sono.

Vamos pensar sobre os hábitos de sono? Hábitos de sono ruins podem trazer consequências negativas reais para a saúde de nossos filhos. O sono fragmentado e interrompido, com duração e qualidade inferior à necessária podem desencadear diversos problemas. Déficits de atenção, concentração, assimilação, memória e inclusive, estabelecimento de comportamentos inadequados, são alguns exemplos. Em situações como essa, a criança não dispõe das condições que precisa para agir conforme seu potencial pois, se sente cansada, irritada e nervosa. Diversos pais relatam que conheceram um “filho diferente” depois do processo de melhoria do sono. E isso é real.

Diante disso, tento trabalhar com os pais a culpa que muitas vezes surge durante a educação do sono. O choro que ocorre no processo é, normalmente, a comunicação de alguma frustração. É a insatisfação gerada pela mudança de um padrão estabelecido. Mas um padrão, muitas vezes, danoso para aquela criança e aquela família. Um padrão que pode ter sido construído e reforçado pelos próprios pais.

Assim, durante o processo, sempre buscamos racionalizar e pensar que nossos filhos têm todas as necessidades básicas atendidas. E que seu choro é parte de um novo aprendizado. Algum bebê aprende a andar sem chorar por alguns tombos e joelhos ralados?
 

Como falamos no início do texto, a chave para lidar com o choro de maneira mais tranquila é sempre pensar sobre a função desse choro e se podemos (ou devemos) atendê-lo nesse momento.