Cama compartilhada - sim ou não?

08/08/2018 Iara Castro

Cama compartilhada, sim ou não – “eis a questão”! Uma dúvida frequente entre cuidadores refere-se aos benefícios e contra indicações da prática da cama compartilhada. Antes de iniciar algumas reflexões sobre o assunto, considero importante esclarecermos bem alguns conceitos.

O que é cama compartilhada

Cama compartilhada pode ser denominada também, “cama familiar”. E refere-se ás situações onde os membros da família dormem na mesma superfície.

O que é co-sleeping

O co-slepping refere-se a dormir próximo aos pais. Nessa prática, a criança dorme em uma superfície diferente, mas no mesmo ambiente que os pais. E então, podem ser utilizados: moíses, carrinhos de bebê, berços que se acoplam à cama dos pais, entre outros. E para crianças mais velhas, uma cama adicional no quarto ou até um colchão próximo aos pais.

Conceitos esclarecidos, vamos agora ao “X” da questão!

A prática da cama compartilhada é positiva e recomendada ou contra indicada?

Como ocorre com quase todas as questões maternais, não existe consenso em relação a essa dúvida. O único ponto com o qual todos os especialistas concordam é que, ao ser praticada, a cama compartilhada deve seguir todas as suas diretrizes de segurança. Essa preocupação existe devido à relação entre a cama compartilhada e a síndrome morte súbita infantil (SMSI). E, portanto, considero extremamente importante conhecê-las.

Diretrizes de segurança para cama compartilhada

As diretrizes de segurança que compartilho a seguir foram reunidas pela API (Attachment Parenting International) em uma cartilha chamada “Sono Infantil – Orientações de segurança”. Vamos conhecê-las?

  1. -Amamente o seu bebê! Mães que amamentam permanecem mais tempo em estágios leves de sono, fazendo com que elas estejam mais alertas aos bebês.
  2. -Utilizem uma superfície firme e segura para dormir. Sofás, camas d’água e outras superfícies improvisadas são perigosas.
  3. -Ponha o bebê próximo à mãe, ao invés de deixá-lo entre o pai e a mãe. Isso evita que um pai que tenha sono muito pesado, por exemplo, não perceba o bebê ao seu lado.
  4. -Use grades ou protetores de cama quando colocar o bebê na cama da família. Preencha qualquer espaço entre a cama e as paredes, cabeceira e móveis. Evite quedas.
  5. -Seja consciente sobre o arranjo de sono. Coloque o bebê próximo à mãe, em um ambiente planejado e seguro, ao invés de cair no sono por exaustão no sofá, cadeira, poltrona, ou qualquer outro lugar inseguro.
  6. -Apenas cuidadores primários devem dormir com um bebê, pois apenas eles poderão dormir em um estado leve de alerta, atentos aos movimentos e à presença do bebê.
  7. -Não deixe que babás ou irmãos mais velhos durmam próximo ao bebê, pois eles também não estarão alertas aos movimentos e à presença do bebê.
  8. -Eleja um ambiente bem ventilado, sem excesso de calor e garanta o conforto térmico do bebê.
  9. -Evite edredons, cobertores, bichos de pelúcia, almofadas e travesseiros. Faça o controle térmico através das vestimentas dos pais e bebê.
  10. -Adultos devem dormir com cabelos presos e evitar pijamas com cordas ou qualquer elemento que possa enroscar no bebê.

Quando a cama-compartilhada não deve ser realizada de maneira alguma 

  1. -Fumo: Existe um risco aumentado de SMSI (Síndrome da Morte Súbita Infantil) associado ao tabagismo e cama compartilhada.
  2. -Sobrepeso: Também existe um risco aumentado de SMSI, que foi associado à obesidade parental e a prática de cama compartilhada. Seios maternos muito fartos também, são fatores de atenção.
  3. -Bebê prematuro, baixo peso ou quando tem febre alta.
  4. -Irmãos mais velhos ou animais de estimação não devem dormir próximos ao bebê.
  5. -Histórico de ronco ou apnéia entre os adultos.
  6. -Utilização de álcool e drogas: De uma maneira geral, qualquer substância que altere o seu estado de consciência é proibido para quem pratica cama compartilhada. Inclusive medicamentos de farmácia (gripes e resfriados).

Após o esclarecimento dos requisitos de segurança para a prática da cama compartilhada podemos pensar sobre os argumentos normalmente utilizados por aqueles que são favoráveis e desfavoráveis a esse arranjo de cama.

NÃO para a cama compartilhada

Os principais argumentos contra a prática da cama compartilhada são as orientações fornecidas pelas Associações de Pediatra (inclusive a Brasileira) e Organização Mundial de saúde, que contra indicam sua realização. A Organização Mundial de saúde recomenda que bebês até o sexto mês de vida durmam em um berço ou carrinho próximo aos pais, mas nunca na mesma cama.

Encontramos também, questionamentos referentes a outros aspectos como:

  • Distanciamento entre o casal e perda da intimidade,
  • Dependência emocional da criança em relação aos pais – reforço de comportamento inseguro,
  • Criação de hábito duradouro e dificuldade em retirar a criança da cama dos pais futuramente.

SIM para a cama compartilhada

O argumento mais utilizado para defender a cama compartilhada é a relação benéfica entre a prática e a amamentação. Assim, diversos estudos demonstram o prolongamento da amamentação em famílias que praticam o sono compartilhado. Outro argumento frequentemente utilizado é a segurança do bebê. Pois, os defensores afirmam que a proximidade entre os pais e a criança permitiria uma resposta mais rápida em caso de intercorrências, como engasgos. A cama compartilhada também é frequentemente defendida por aqueles que apoiam a criação com apego. Pois, fortaleceria os vínculos entre pais e filhos e aumentaria a sensação de segurança e conforto do bebê. Dessa forma, eles alegam benefícios positivos no desenvolvimento cognitivo e afetivo das crianças. Alguns praticantes ainda afirmam que a mãe e o bebê possuem melhor qualidade de sono quando realizam cama compartilhada. Mas, isso é um aspecto exclusivo de cada família e cada bebê.

Mas, e então? Sim ou não? 

Quando recebo perguntas diretas de pais e cuidadores sobre a recomendação ou não da cama compartilhada costumo questioná-los sobre as reais motivações para a prática. Acredito que o maior argumento favorável para a sua realização seria: “minha família é feliz assim. E dessa forma, TODOS dormem bem”. Quando digo todos, não me refiro ao bebê apenas. Mas, a TODOS que dormem na mesma superfície. O bem estar e a qualidade de sono dos demais integrantes da família também deve ser considerada. Quando toda a família está bem e feliz e as recomendações de segurança são seguidas, sou totalmente a favor. O problema aparece quando encontramos famílias que praticam a cama compartilhada não por filosofia ou por acreditarem em seus benefícios. Mas, por não encontrarem outra forma para o bebê dormir. Nesses casos não percebemos uma escolha consciente e sim, ausência de opções. Para esses pais, gostaria de dizer: existem alternativas! Exerça uma parentalidade consciente e busque um arranjo de sono que satisfaça não apenas ao bebê, mas à toda família!

A saúde de todos depende de um sono de qualidade!